Diagnóstico Diferencial e Exames Complementares

Qualquer paciente com início agudo de dor escrotal em quem o diagnóstico de torção não pode ser descartado deve ser submetido a testes diagnósticos. Deve-se lembrar que, apesar de a torção testicular ou a orquiepididimite serem os principais diagnósticos diferenciais, outras etiologias devem ser consideradas. A gangrena de Fournier, por exemplo, cursa com dor escrotal significativo, edema tenso normalmente iniciando-se em períneo e parede abdominal com irradiação para os testículos.

A torção do apêndice testicular é um diagnóstico praticamente exclusivo de crianças e tem apresentação e evolução mais lentas e graduais que a torção testicular. O trauma testicular pode cursar com hematocele ou ruptura testicular. Após procedimentos de vasectomia, podem ocorrer dor e edema pós-procedimento, normalmente de caráter limitado e manejados com anti-inflamatórios não esteroidais e medidas locais.

A hérnia inguinal pode cursar com dor escrotal, mas, comumente, os sintomas ficam em região inguinal. Outros diagnósticos diferenciais incluem a orquite após caxumba, câncer testicular e patologias de órgãos adjacentes com dor referida em região testicular. Em pacientes em que a história sugere fortemente a torção, é necessária uma consulta cirúrgica de emergência. Se o diagnóstico for duvidoso, devem ser realizados testes para determinar a causa da dor.

Embora os resultados do exame de urinálise sugestivos de infecção sejam consistentes com a epididimite, tais achados também podem ser observados em pacientes com torsão e infecção urinária concomitante. No exame de imagem, a ultrassonografia (USG) tem sensibilidade de 64 a 100% e especificidade de 97 a 100%. O testículo torcido tipicamente é hipoecoico e com uma diminuição de fluxo ao doppler; por outro lado, um fluxo sanguíneo normal era presente em 33 de 34 pacientes avaliados, devido à dor escrotal, os quais tinham torção testicular, o que mostra uma boa especificidade do exame.

Os achados falsos negativos ocorrem quando o testículo é examinado no início da doença, quando o fluxo sanguíneo ainda está presente e com torção intermitente. O exame do cordão espermático para a torção, em vez do próprio testículo, mostrou reduzir a frequência desses resultados falso-negativos. Os estudos com Doppler podem ser mais difíceis de interpretar em meninos mais jovens, pois o fluxo sanguíneo é fisiologicamente baixo nos testículos de meninos prepúberos.

Até 50% dos meninos com menos de 8 anos não apresentam fluxo intratesticular. Essa dificuldade com o Doppler pode resultar em diagnósticos falso-positivos, o que poderia levar a uma exploração cirúrgica desnecessária. A comparação com o testículo contralateral pode ajudar a evitar esse diagnóstico errado, pois, em pacientes normais, o fluxo sanguíneo para os dois testículos será semelhante.

O achado do Doppler colorido do testículo depende do grau de torção do cordão espermático. Com 180º ou menos de torção do cordão, o fluxo venoso testicular cessa, mas o fluxo arterial persiste. Isso leva ao edema do testículo, o que pode ser mal interpretado como inconsistente com a torção. Em contraste, com mais de 180º de torção do cordão, o fluxo arterial também cessa, levando à falta de sinal Doppler. A textura do eco parenquimatoso na USG pode ajudar a prever a viabilidade do testículo. Uma textura de eco homogênea do parênquima tem sido associada a uma maior probabilidade de recuperação testicular.

A imagem de ultrassom doppler colorido é um teste barato e rápido, prontamente realizável no DE. É útil quando demonstra torção em pacientes com achados equívocos na história e exame físico, mas não possui sensibilidade suficiente para descartar o diagnóstico de torção. 

Um urologista deve avaliar qualquer paciente em que os achados de USG sejam negativos se a história e o exame físico sugerirem torção. Além disso, uma USG nunca deve atrasar a avaliação por um urologista em qualquer paciente com provável torção. A ressonância nuclear magnética (RNM) e a cintilografia por radionuclídeos do escroto também foram usadas para diagnosticar a torção testicular, mas são demoradas. Eles foram amplamente substituídos pela USG. Em pacientes em que o diagnóstico de torção testicular não pode ser excluído pelo exame físico ou USG, é recomendado realizar a exploração cirúrgica.

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