O baço é um dos órgãos mais acometidos em traumas, sendo responsável por 40-55% dos traumas fechados. Por ser altamente vascularizado, quando submetido a um trauma, pode iniciar uma hemorragia, que, a depender do grau de lesão, pode tornar-se potencialmente fatal. O principal objetivo do tratamento do trauma esplênico é a identificação dessa lesão e o controle do foco hemorrágico. Devido a sua importância, nesse texto iremos discutir como identificar, classificar e manejar um trauma esplênico de forma correta.
História
É de extrema importância entender o contexto do acidente. Precisamos suspeitar de lesão esplênica quando há história de trauma em quadrante superior esquerdo, hemitórax esquerdo ou flanco esquerdo. Tais informações podem ser oferecidas pelo próprio paciente ou pelo atendimento pré-hospitalar (APH) e variam conforme o mecanismo.
Acidentes automobilísticos: velocidade em que estava o veículo, como foi a colisão (capotamento, impacto frontal, lateral ou traseiro), uso de cinto de segurança, acionamento dos airbags, posição da vítima (passageiro ou motorista, banco da frente ou de trás), condição do veículo após o acidente;
Quedas: altura da queda;
Trauma penetrante: tempo de lesão, tipo de arma (faca, arma de fogo), distância do agressor, número de facadas ou tiros que a vítima recebeu volume de sangue no local.
Exames Complementares
No trauma esplênico, entre os principais exames complementares utilizados estão o Focused Assessment with Sonography for Trauma (FAST) e a tomografia computadorizada (TC). O uso de lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) vem sendo progressivamente substituído pelo FAST e é cada vez menos frequente nos centros de trauma.
FAST
É extremamente útil para avaliação de pacientes hemodinamicamente instáveis. Contudo, um exame FAST negativo não é o suficiente para excluir lesão esplênica. Em relação aos achados frequentes, podemos observar uma borda hipoecóica (preta) ao redor do baço, o que pode indicar a presença de líquido subcapsular ou periesplênico intraperitoneal, ou líquido no espaço de hepatorrenal (de Morrison).
Tomografia Computadorizada
Hemoperitônio: líquido livre ao redor do baço é altamente sugestivo para hemoperitônio. No caso de lacerações esplênicas com sangramento intenso, podemos encontrar fluido de densidade sanguínea em todo o abdome;
Hipodensidade: ruptura de parênquima, hematoma intraparenquimatoso ou hematoma subcapsular apresentam-se como regiões hipodensas;
Hiperdensidade ou extravasamento: áreas hiperdensas podem indicar ruptura traumática ou pseudoaneurisma de vasos esplênicos. Já o extravasamento de contraste indica sangramento ativo e necessidade de intervenção de urgência.
O trauma esplênico possui uma grande incidência em nosso meio, principalmente quando tratamos de acidentes automobilísticos. As lesões traumáticas do baço decorrem mais frequentemente de trauma fechado, mas também podem ocorrer através de trauma penetrante, como ferimentos por arma branca ou arma de fogo.
No atendimento inicial é preciso realizar uma avaliação rigorosa com base na história do trauma e no exame físico. Os exames complementares, como o FAST e a TC, podem ajudar na avaliação diagnóstica, bem como na instituição de condutas. Vale lembrar que a instituição do tratamento depende principalmente do estado hemodinâmico do paciente. Instabilidade hemodinâmica com LPD ou FAST positivo é um critério mandatório para realização de laparotomia exploratória.
Referências:
UpToDate: https://www.uptodate.com/contents/management-of-splenic-injury-in-the-adult-trauma-patient
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